Torcedor do Amazonas FC é alvo de racismo em grupo de rede social
O torcedor do Amazonas FC Jean L. Santana, 24, natural de Salvador (BA), foi vítima de racismo e xenofobia nas redes sociais por um homem identificado como Lucas Silva, torcedor de outro time da região, o Manaus FC. O caso teve início na última quarta-feira (5), quando Lucas começou a insultar Jean, em uma página de humor, com conteúdo voltado para torcedores de times amazonenses.
De acordo com a vítima, a primeira atitude criminosa de Lucas foi quando o mesmo publicou uma foto de Jean, sem autorização, com a descrição ‘Eu sou baiano e torço para o Amazonas. Eu sou a lenda roin roin’, usando uma onomatopeia no final da frase, que faz alusão ao zurrar de um jumento, animal típico do Nordeste brasileiro, caracterizando o crime de xenofobia.
Na ocasião, Lucas respondeu a vítima na tentativa de se defender, entretanto, o mesmo novamente o insultou ao dizer, ‘Cala boca Macaco!’, um ato de discriminação e preconceito que caracteriza o crime de racismo e denigre a imagem da vítima.
Em uma conversa com a equipe de reportagem do Grupo Diário de Comunicação (GDC), Jean afirmou que, ao ser chamado de ‘macaco’ por Lucas, passou mal. “É normal, em todo grupo de futebol, torcedores de vários clubes e times diferentes ter a liberdade para brincar com as coisas que acontecem no esporte, principalmente entre homens, porém, é necessário que se tenha antes de qualquer paixão por algum time, seja ele qual for, o respeito pelo ser humano”, disse Jean, que abrirá um Boletim de Ocorrência (BO).
A reportagem tentou entrar em contato com Lucas Silva por meio de sua rede social, mas até o fechamento desta matéria não obteve retorno.
De acordo com Marcelo Serudo, proprietário da página de humor, denominada ‘Barezão’, todas as imagens e publicações são verdadeiras, inclusive, o mesmo criou uma publicação para ajudar a denunciar os comentários racistas e xenófobos de Lucas.
“Nossa página e grupo são espaços onde pessoas são livres para fazer brincadeiras e provocações, o que é normal dentro do futebol. A gente sabe também que, quando os ânimos se exaltam, a página e, principalmente, o grupo, podem ser usadas como meio de xingamentos, como aconteceu com um de nossos integrantes, que foi vítima de racismo”, disse o Serudo.
Ainda segundo o proprietário da página, Jean chegou a denunciar a publicação para a moderação do grupo. “Eu, como proprietário, tomei as decisões necessárias para que crimes como esses não aconteçam e expulsei o membro do grupo”.
De acordo com dados divulgados pela Secretaria de Segurança Pública (SSP-AM), no ano passado, o número de casos de racismo registrados em Manaus cresceu 11% entre janeiro de outubro de 2019. Já no Brasil, dados do Observatório da Discriminação Racial no Futebol, entidade dedicada a pesquisar e discutir o tema, registrou 47 casos no País até novembro do ano passado. O número representa um crescimento de 6,8% em relação ao ano de 2018.
Com o objetivo de pôr um fim no crime de racismo, o ex-presidente da República José Sarney assinou, em 5 de janeiro de 1989, a Lei de nº 7.716, que passou a ser conhecida pelo nome de seu autor, o ex-deputado Carlos Alberto Caó de Oliveira.
Caó era jornalista, advogado e militante do Movimento Negro. Assim como Jean, também nasceu em Salvador, e mudou-se para o Rio de Janeiro, Estado pelo qual, em 1982, elegeu-se deputado federal.
Como constituinte, Caó regulamentou o trecho da Constituição Federal que torna o racismo inafiançável e imprescritível. Depois, lutou para mudar a Lei Afonso Arinos, de 1951, que tratava a discriminação racial como contravenção. Morreu em fevereiro de 2018, aos 76 anos.
Acesse e leia nossos “Relatório Anual da Discriminação Racial no Futebol” 2014, 2015, 2016, e 2017 com os casos de preconceito e discriminação no esporte brasileiro aqui
Fonte: D24am