Na última quarta-feira, dia 11, um suposto líder do tráfico de drogas do Complexo do Alemão, famoso conjunto de favelas da Zona Norte do Rio de Janeiro, foi preso, encontrado num motel com a namorada.

Até aí, o fato nada tem a ver com futebol e menos ainda com o Fluminense.

No entanto, na foto divulgada pela Polícia Civil, o suspeito vestia uma camisa do Flamengo.

Neste mesmo dia, nosso rival venceu a Cabofriense e nos tomou, provisoriamente, a liderança deste que é um dos carioquinhas mais sem-graça de todos os tempos. Os dois fatos aliados eclodiram numa série de “piadas” de tricolores nas redes sociais, direcionadas aos mulambos, favelados, desdentados bandidos. Estereótipos que criamos que em nada condizem com a reconhecida fidalguia que, sim, nós temos, e que tampouco agregam valor ao nosso clube.

Não é novidade que o futebol, como microcosmo da sociedade, e sendo um ambiente imerso em paixão cega, é pródigo num preconceito muitas vezes encarado com a mais absoluta normalidade. Bambis, mulambos, gambás, marias, macacos, bosteros e galinhas são apenas algumas dessas demonstrações de ódio, destinadas basicamente ao conceito de sexualidade, classe social e raça do outro indivíduo. Algumas dessas demonstrações resultam até em mortes, e quando esses casos envolvem torcedores organizados, geram certa repercussão, embora quase sempre sem nenhuma reflexão verdadeiramente séria.

Por isso, este texto defende o fim das provocações de cunho preconceituoso de tricolores contra quaisquer que sejam os nossos adversários. Se temos orgulho de nossa fidalguia, não podemos ser péssimos exemplos, reproduzindo ódio às nossas próximas gerações de torcedores. Definitivamente, é preciso repensar esse discurso babaca de ser a playboyzada. É necessário extirpar o silêncio na favela das arquibancadas.

Ao longo do tempo, já demonstramos que somos criativos e capazes de coisas mais inteligentes.

Especificamente sobre o Flamengo, pode-se desmistificar a história do deixou chegar, da torcida que carrega o time, citando justamente a freguesia em finais (9 a 3).

O Carrasco Assis, um dos jogadores que mais dá significado ao conceito de fidalguia tricolor, também é personagem para a criação de uma infinidade de gozações.

O Centernada é outro exemplo. Afinal, o melhor virou pior ataque do mundo, num ano que ainda nem acabou para os rubro-negros, visto que eles têm pesadelos com o Gol de Barriga até hoje.

Os inesquecíveis gols de Cabañas. Wright, Independiente, Santo AndréEmelec. O Créu do Thiago Neves… Enfim, sempre há uma forma não agressiva e inteligente de fazer o rival de chacota.

É claro que esse recado não pode ser válido apenas aos tricolores. Os rivais também podem sair da mesmice. Contra nós, pesa a pecha de uma suposta homossexualidade, como se ter uma orientação diferente na vida fosse ofensa. Não é e nem pode ser! E isso não define caráter.

Portanto, tricolores, se queremos provar que somos diferentes, que tal repensarmos nossas posturas? No momento em que o futebol brasileiro – e toda a sociedade – está propício a mudanças profundas e estruturais, ainda que pareça difícil realizá-las de dentro pra fora, de fora pra dentro faremos nós. E aí, faremos?

Fagner Torres e Luan Monteiro, blogueiro convidado. @ESPNFCbra

Via: ESPN FC (publicado 12/02/2015)