Racismo, pressão exacerbada e críticas descabidas a Quarterback negros no Futebol Americano

Você sabia que a NFL já teve um banimento informal de atletas negros de 1934 a 1946?

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Mas quero começar esse artigo um pouco depois, na década de 60, mais especificamente em 1969. Não faz tanto tempo, certo? Há 52 anos muitos de nós ou nossos pais já curtiam esportes e falando historicamente é “ontem”.

Em seu livro “40 Million Dollars Slaves”, William Rhoden diz que “Na década de 60, quarterback era uma posição sagrada reservada apenas para jogadores brancos. “Atleticismo” para a posição de quarterback era quase que um palavrão”. Por mais que quarterbacks negros fizessem sucesso no nível de college, ao chegar no profissional, sempre eram colocados como, DBs, WRs ou Running Backs (Ora ora…)

Sucesso no College e selecionado no Draft (sistema de escolha de jogadores universitários para jogar no profissional) apenas no oitavo round, James “Shack” Harris, se sentiu desmoralizado e quase não se apresentou para o Buffalo Bills, time que o selecionou.

Convencido pelo seu técnico da Universidade de Grambling, Eddie Robinson, se apresentou. Segundo Robinson, a decisão dele não se apresentar não afetaria somente ele. Robinson disse a Harris que, se ele não se apresentasse, talvez nunca mais teríamos um negro como quarterback nos profissionais.

Essa pressão de ser o primeiro e das suas atitudes não só te representarem, mas todo um grupo de pessoas é assim todo dia, até hoje. Não raramente escutamos, nos dias de hoje vários “primeiros” e “primeiras”: o primeiro piloto de formula 1 negro, a primeira vice presidente dos EUA negra, o primeiro presidente negro, a primeira…o primeiro…

Falando em primeiros, apenas em 2001, tivemos um Quarterback negro draftado como numero 1, quando Michael Vick foi selecionado pelo Atlanta Falcons.

Voltando à “Shack”, ele se apresentou e se tornou o primeiro jogador negro a começar uma temporada como quarterback na história.

Antes, em 1968, Marlin Briscoe, também QB no college e draftado como Defensive Back, jogou nos Broncos, substituindo Steve Tensi, que se machucou. Curiosidade: Briscoe negociou o próprio contrato dizendo: eu jogo de DB, mas me deem um teste de QB. De acordo com Briscoe: “existiam algumas coisas que a sociedade pensava que um homem negro não pudesse fazer e três delas eram: Pensar, Arremessar uma Bola e Liderar.”

Naquele ano, em 5 partidas como titular e 11 jogadas, Briscoe passou pra 1,589 jardas, 14 Touchdowns e 13 Interceptações. Além disso, correu 308 jardas e 3 Touchdowns, o que lhe rendeu o apelido de “O Mágico”

Em entrevista para Jim Trotter, quando perguntado, em 2021, se raça ainda era um fator, Byron Leftwich comenta que “A NFL não será diferente do resto do mundo, logo eu ainda acho que é um fator. O fato de ainda estarmos dizendo “um quarterback afro americano” e ainda estarmos tendo essa conversa, acho que responde essa pergunta para nós, certo? Eu ouço pessoas falando “Então, Mike Tomlin é um dos melhores técnicos negros”, mas só o fato de estarmos dizendo – só pense nisso. – O fato de estarmos tendo essa conversa diz muito”

Todo esse contexto histórico pra dizer que hoje, 2021, você basear a sua crítica no Lamar Jackson em: “parece mais um running back”, “isso não é jogar de quarterback” é basicamente, além de racista, como se você ainda estivesse em 1960. Evolua!

O mesmo Lamar Jackson, jogador mais valioso (MVP) da temporada 2019/2020 da NFL e com números na atual temporada ainda melhores que naquele ano, teve que ouvir de Bill Polian, um respeitado executivo e membro do Hall da Fama, que seria bom mudar de posição ao passar do College para os profissionais, isso há 3 anos.

Pessoalmente, escolhi o time que iria torcer ao começar a me envolver com futebol americano e jogar o game Madden, que naquele ano contava na capa com Donovan McNabb do Philadelphia Eagles.

E sim, pra que eu, Bruno Rosa, emita uma opinião, tenho que estudar pra caramba. Errar

, falar besteira, pedir desculpa e dizer que foi mal interpretado é um privilégio que até hoje pessoas pretas não tem, seja comentando, escrevendo ou jogando.

Acesse e leia nossos “Relatório Anual da Discriminação Racial no Futebol” 2014201520162017 , 20182019 e 2020 com os casos de preconceito e discriminação no esporte brasileiro aqui

Fonte: Texto de Bruno Rosa