Caso de homofobia contra ex-BBB Gil segue indefinido no Sport: “Absolutamente nada andou”

Responsável por vazamento de áudios reclama de falta de debate e transparência; Conselho Deliberativo criou, em junho, uma comissão para avaliar o caso, ainda sem solução

Gil do Vigor na Ilha do Retiro — Foto: Anderson Stevens / Sport Club do Recife

No dia 14 de maio, o conselheiro do Sport Flávio Koury viralizou nas redes sociais com áudios de conteúdo homofóbico criticando a dança do ex-BBB e torcedor do Leão, Gil do Vigor. A história revoltou a torcida rubro-negra na época. Rendeu apoio do clube nas redes sociais, promessas de punição e a criação de uma Comissão de Ética para apurar o fato. Mas quase três meses após o ocorrido, o caso segue sem solução.

Responsável pelo vazamento dos áudios, o também conselheiro Romero Albuquerque protocolou – em maio – um pedido de expulsão de Koury. Só que a primeira ação efetiva do Conselho Deliberativo só aconteceu um mês depois.

No dia 8 de junho, o órgão nomeou a Comissão de Ética que seria responsável por analisar o fato – antes de abrir para votação do plenário. Mas dois meses se passaram desde então e ainda não houve parecer sobre a denúncia.

– Absolutamente nada andou. Pelo menos não que houvesse transparência. Não vi nenhuma portaria sobre o tema, não vi nenhum debate sobre. Não vejo com bons olhos algo que está sendo demonstrado que não está andando – afirma Romero Albuquerque.

Ao longo deste período, o presidente do Conselho Deliberativo, Pedro Leonardo Lacerda, distanciou-se do cargo para assumir o comando do executivo de forma provisória durante um mês – após as renúncias de Milton Bivar e Carlos Frederico. A mudança paralisou o andamento do caso, segundo um dos membros escolhidos para a Comissão de Ética, Fernando Pessoa.

– Com a renúncia de Milton e a obrigatoriedade do presidente efetivo do Conselho ficar no executivo, essas coisas estão todas paralisadas – disse o conselheiro, ainda no início do mês passado.

Agora, no entanto, Pedro Leonardo Lacerda está de volta ao posto no Deliberativo. Questionado em relação ao andamento do caso, ele promete acionar o Conselho para buscar uma solução.

– Vou submeter ao plenário do Conselho o que aconteceu para que seja discutido um caminho, uma vez que o estatuto do clube não disciplina essa hipótese da comissão não se posicionar no tempo. Não tenho meios de fazer um juízo de valor sobre o trabalho da comissão e tenho certeza que vão trazer a resposta para a questão que está sob julgamento deles – afirma.

Ao mesmo tempo em que a denúncia sobre homofobia segue sem resposta, o Sport passa por mudanças na configuração da diretoria executiva.

Após as novas eleições, o clube passou a contar com uma vice-presidência de Diversidade e Impacto Social – conduzida por Roberta Negrini. Criada em um momento chave. Ela não tem poder sobre as decisões do Conselho, que funciona de forma independente, mas promete agir sobre o caso.

Esse é um assunto que eu trouxe para meu colo pessoalmente, me sinto envergonhada com essa historia. O clube sim vai tomar providências.”

– A gente quer que o clube seja um lugar onde as pessoas se sintam em casa. Então acho que essa é a melhor resposta que a gente pode dar nesse momento. Mas vamos tomar as providências legais, queremos que isso vá até o final. Da forma ética e moral, que o clube não seja visto dessa forma.

Entenda os detalhes do caso

A história começou com o vazamento dos áudios de Flávio Koury, criticando a dança de Gilberto – performada durante a visita do torcedor à Ilha do Retiro, em maio.

– Tem 1,2 milhão de pessoas achando que o Sport só tem viado, só tem bicha. Vai vender é camisa. A viadagem todinha vai comprar. Vai ser lindo! Se ele tivesse feito essa dancinha na casa dele ou no bordel, ou onde ele quisesse, eu não estava nem aí. Mas foi dentro da Ilha do Retiro, né rapaz. Isso é uma desmoralização. Isso é ausência de vergonha na cara – dizia Koury nas gravações.

Após o vazamento, Romero Albuquerque fez um pedido de expulsão do conselheiro. Koury disse que as falas foram tiradas de contexto e, em meio à repercussão nacional, pediu desculpas a Gil.

Na época, o também conselheiro do Sport, Renan Valeriano, reiterou a posição de Koury. Mas não houve desdobramentos neste caso.

Em relação ao Sport, o clube declarou apoio a Gil do Vigor – em pronunciamento oficial do clube e da diretoria executiva. Depois disso, também prestou homenagens com camisas – doando a renda para uma ONG LGBTQIA+. E os atletas reproduziram a dança do ex-BBB em uma comemoração de gol.

Desde então, não houve mais atualizações.

Acesse e leia nossos “Relatório Anual da Discriminação Racial no Futebol” 2014201520162017 , 2018 e 2019 com os casos de preconceito e discriminação no esporte brasileiro aqui.

Fonte: GloboEsporte