Adhemar Ferreira, o racismo e a Austrália

Instituto Salto para a Vida (foto reprodução)

Instituto Salto para a Vida (foto reprodução)

O grande Adhemar Ferreira da Silva ficaria muito triste se estivesse ainda na terra. Não é que sua querida e estimada Austrália, onde ele se tornou um monstro sagrado do atletismo está tendo atitudes racistas com atletas brasileiros? O velho Adhemar, que tanto amava aquele país, onde se tornou bicampeão olímpico, colocaria seu violão de lado e usando sua língua ferina iria disparar poucas e boas palavras contra a embaixada do país amigo. O que está acontecendo?

”Todos os anos, o ”Instituto Salto para a Vida” manda um jovem para a Austrália, num intercâmbio com uma escola em Sydney. Desta vez, estamos mandando uma menina carente, boa atleta do Vale do Ribeira, que corre os 800 metros. Ela deveria embarcar na próxima segunda-feira, mas a embaixada australiana está inventando moda a cada documento entregue… como sempre dando trabalho”, queixou-se Adyel Silva, filha do grande Adhemar Ferreira da Silva, patrono do instituto.

A atleta Alessandra Oliveira da Silva é uma das apostas do projeto. O instituto tem um convênio com a escola pública Westfield High, que fica em Sydney. De acordo com o convênio: anualmente, um atleta australiano vem para o nosso país e compete no Troféu Brasil. E um brasileiro vai para lá e fica três semanas treinando na escola, famosa por seus feitos esportivos.

          Conheça o “Instituto  Salto para a Vida”.

”Acontece que sempre que o atleta brasileiro é negro, a embaixada australiana não libera o visto. É o que está ocorrendo agora com a nossa indicada”, acusa Diego Menasse, neto de Adhemar Ferreira da Silva e um dos responsáveis pelo projeto. Alessandra mora em Juquiá, tem 17 anos, é de família humilde e treina com o professor Júlio César, ex -saltador de triplo. Diego lembra que nas vezes em que os atletas negros Cleiton Sabino e Marcos Alcântara foram escolhidos, o problema foi semelhante. ”Tivemos dificuldades para a obtenção do visto e só com a interferência do professor australiano Dan Suchy a questão foi solucionada. Isso é inacreditável”.

Diego pediu em novo e-mail ao professor Dan Suchy que a embaixada libere o visto e deixe as exigências que não foram feitas para outros atletas do projeto.

”Pedi encarecidamente, que a embaixada libere o visto, pois agora estão pedindo cópia de passaportes ou documentos com foto e assinatura dos pais e a tradução do formulário de autorização de viagem de menor de idade. Sendo que ela já tem um, que está assinado por um juiz da vara da infância”.

Se tudo der certo e Alessandra viajar, ela fica por três semanas na escola australiana, que está situada em um bairro pobre e é totalmente voltada para o atletismo e o esporte em geral. ”Já saiu uma campeã mundial do disco dessa escola, como também jogadores da seleção de rúgbi foram formados lá”.

O atleta brasileiro do projeto viaja com tudo pago, fica na casa de um atleta australiano e nas três semanas treina e compete num torneio que envolve equipes da Austrália, Estados Unidos e Reino Unido.

”O atleta recebe ainda 30 dólares de diária para fazer frente a eventuais despesas”.

Agora, Alessandra espera o visto. Como esperaram um dia Cleiton e Marcos.

” Coincidentemente três brasileiros negros. Acho que não preciso falar mais nada ”, desabafou o neto do velho Adhemar, que é adorado na Austrália e é figura de destaque no Museu Olímpico de Melbourne — onde aparece como bicampeão olímpico do salto triplo e uma das estrelas da competição de 1956.

Talvez, o pessoal da embaixada no Brasil não saiba disso.

Acesse e leia nosso Relatório Anual da Discriminação Racial no Futebol 2015, com os casos de preconceito e discriminação no esporte brasileiro em 2015

Fonte: Uol

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