Marcela Rafael avalia a cultura machista: “Eu tenho visto mudança”

Hoje, na continuação da entrevista com a jornalista e apresentadora dos canais ESPN, Marcela Rafael, ela fala de sua vivência na Caravana do Esporte, do ESPNW que apresenta e percebe uma mudança positiva sobre o comportamento dos homens em relação à participação das mulheres no jornalismo esportivo.

rédito: Instagram. Marcela Rafael é uma porta-bandeira da luta pela igualdade de gênero no jornalismo esportivo

Torcedores: Você é o símbolo do ESPNW, que levanta a bandeira dos direitos iguais e mais oportunidades para as mulheres nos esportes. Acredita que a Caravana segue nessa linha de inclusão?
Marcela Rafael: Sim, o ‘W’ é de ‘woman’, de empoderamento feminino, de fazer com que as mulheres sejam tratadas exatamente iguais aos homens, que tenham os mesmos direitos e oportunidades. A Caravana não é só para meninas. Mas, a partir do momento que tratam meninos e meninas da mesma forma – nessa idade as crianças não têm muita ideia do que é essa diferença que elas verão e que as meninas ainda conviverão quando elas crescerem um pouco mais – já é significativo. Há a inclusão de todas as crianças, as mais habilidosas, as menos habilidosas, que gostam ou não gostam do esporte, as que têm deficiência ou não têm. Você vê crianças com Síndrome de Down, com autismo convivendo exatamente da mesma maneira, brincando da mesma maneira.

Então, quando elas entram aqui, ninguém pergunta: “você gosta de jogar vôlei”? Aqui todos vão jogar. “Ah, eu não gosto de jogar”! Mas vai jogar, porque você vai como é legal jogar vôlei ao lado do teu amigo. E o mais interessante é que eles (organizadores) misturam as escolas, misturam as salas. Ficam na mesma faixa etária, naturalmente.

Eu estava brincando com algumas delas no basquete e tinha que ter uma dupla. Perguntei para uma: “Onde está sua dupla”? “Não tem ninguém da minha sala”, ela respondeu. E eu: “Ah, tá… vamos trazer alguém então”. No final da atividade eles tinham virado amigos. Era um menino e uma menina. Isso que é muito legal. É a inclusão, é o saber que todo mundo ali é igual, é todos juntos, não importa se é menino ou menina, se tem mais ou menos habilidade, se gosta ou não do esporte (nós podemos fazer com que tome gosto), é o aprender a conviver com essas diferenças, para que essas diferenças no futuro, não sejam absolutamente nada, não signifiquem nada.

Torcedores: Aproveitando o ensejo, como você vê o alcance que o programa ESPNW tem ganhado?
Marcela Rafael: Nós crescemos muito para o pouco tempo do ESPNW, começamos há dois anos. Foi no Dia Internacional da Mulher, inclusive (8 de março). Foi uma ideia que trouxemos dos Estados Unidos e abraçamos a causa. [No último dia 30 de agosto fizeram a primeira edição do programa ao vivo, com o tema de violência e abuso sexual]. E o legal que o programa não fala só sobre esportes, só sobre a mulher no esporte. Falamos sobre absolutamente tudo, sobre a inclusão da mulher. Nós pregamos para os homens algo do tipo: “Nós não queremos ser melhores, queremos ter as mesmas oportunidades. Isso chega muito bem para o assinante [dos canais ESPN], para o fã de esportes, que é majoritariamente homens. Ainda são maioria entre nossos assinantes são homens adultos entre 20 e 50 anos de idade. Nós conseguimos mostrar para esse público a importância da inclusão feminina, como eles ganham também com isso. Temos crescido, isso é o mais importante.

Neste momento, queremos é que, a cada dia, vejamos mais pessoas chegando. Estamos conseguindo isso. Conseguimos com o ESPNW, que é o programa de televisão, mas também com nosso portal (espnw.com.br). Acho que é pouco ainda, é aquela semente que está bem no comecinho, está crescendo, vai crescer muito e virar uma árvore bem bonita.

Torcedores: Recentemente houve uma repercussão grande de casos machistas contra mulheres no jornalismo esportivo. Desde então acha que houve alguma melhora?
Marcela Rafael: Eu nem falo desde a última repercussão de assédio, porque isso nós convivemos a vida inteira. Eu convivi com isso desde quando comecei. Nós íamos para campo de futebol para escutar o que nós nunca quisemos escutar, mas escutávamos, porque parecia que fazia parte. Era aquela história: “Ah.. você não quis? Então vai aguentar”. Agora, o legal é que está assim: “Ah… você não quis? Então vai ser respeitada”. Eu tenho visto essa mudança. As pessoas estão começando a respeitar mais a mulher no mundo esportivo. Teve a história do “Deixa Ela Trabalhar”, que foi muito legal. Mulheres jornalistas que se uniram para falar: “Nós merecemos respeito, porque nós trabalhamos tanto quanto os homens e merecemos o respeito que eles recebem”.

Às vezes se escuta: “Os homens também ouvem isso…”, mas é diferente. É totalmente diferente. Eles não escutam porque são homens, nós escutamos porque somos mulheres. Agora vejo um certo respeito. Já vejo quando se escuta algo de um torcedor, vem outro e diz: “Calma, cara! Não é assim… Olha, respeita… Cuidado… Não fala isso, que está sendo machista”. Essa cultura do respeita a mulher, deixa ela trabalhar, olha só que legal o trabalho que ela está desenvolvendo está começando. Quando alguém escreve algum comentário nas redes sociais, já surge bastante gente te defendendo e o cara passa a ser criticado por causa disso. Essa cultura vai trazer bons frutos.

Torcedores: Também está acabando aquele pensamento de “é só um rostinho bonito para chamar atenção”?
Marcela Rafael: Não sei se vai acabar para sempre, mas já faz tempo eu vejo que cada vez menos se dá importância para a mulher porque ela é bonita, principalmente no meio esportivo, de canais sérios. Cada vez mais se vê as mulheres ali, podem até ser bonitas, mas com conteúdo. Isso é o mais importante e é o que os canais buscam, não só a ESPN, mas no geral.

Não perca, ainda hoje, na série de reportagens realizadas na Caravana do Esporte: a saltadora Keila Costa fala do projeto e sua carreira no atletismo.

Acesse e leia nossos “Relatório Anual da Discriminação Racial no Futebol” 20142015 e 2016, com os casos de preconceito e discriminação no esporte brasileiro aqui.

Fonte: Torcedores

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